Para incentivar cuidados com a saúde entre meninos e adolescentes de 9 a 14 anos, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) realiza, durante todo o mês de setembro, a 6ª edição da Campanha #VemProUro, que este ano aborda as principais questões que afetam essa faixa etária.
Pelas redes sociais, serão abordadas dúvidas sobre sexualidade, infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e a importância da vacinação contra o HPV (Papilomavírus Humano). “A dificuldade de trazer os adolescentes para um cuidado maior com a sua saúde ficou extremamente evidente quando começamos a comparar os índices de vacinação contra o HPV, que era muito maior nas meninas do que nos meninos”, disse o presidente da entidade, Alfredo Canalini, em entrevista à Agência Brasil.
“Apesar de a vacina ser gratuita e estar disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), os meninos não procuravam se imunizar”, destacou o médico.
A vacina contra o HPV se destina a meninos e meninas de 9 a 14 anos, mas a adesão dos meninos ainda é baixa. Entre eles, a taxa de vacinação da primeira dose é de 52% e da segunda dose, de 36%, enquanto a meta recomendada é 95%.
O HPV é um vírus que infecta pele ou mucosas das áreas oral, genital ou anal, tanto de homens quanto de mulheres, provocando verrugas anogenitais e câncer, dependendo do tipo de vírus. É uma infecção sexualmente transmissível (IST). Dois tipos de HPV (16 e 18) causam 70% dos cânceres do colo do útero e lesões pré-cancerosas.
Os urologistas da SBU analisaram os números de atendimento na saúde pública de meninos e meninas, na faixa etária de 12 a 18 anos. “Observamos que o número de meninas que se consultam na rede pública é 18 vezes maior que o de meninos”, informou Canalini.
Sexualidade
Outra pesquisa, feita sobre sexualidade, para descobrir como o adolescente se informa sobre o assunto, revelou que nem sempre a fonte era segura. “Nem era com o professor na escola, nem dentro de casa. Parece que a conversa com os meninos acaba ficando meio tabu. Então, os meninos ou se informam com os garotos mais velhos, o que nem sempre é uma troca de informações verdadeiras; na maioria das vezes, são informações equivocadas, ou se informa pela internet, que é pior ainda”, expôs o médico.
Segundo afiançou Alfredo Canalini, a SBU tem o dever de conscientizar as pessoas que não é assim que se lida com a saúde dos meninos. “Porque isso é um ato que começa a se prolongar ao longo da vida. O próprio homem adulto só procura o médico quando está sentindo alguma coisa. E quando o sintoma aparece, muitas vezes já é uma doença que está avançada”.
A campanha #VemProUro está muito focada neste ano na questão da sexualidade, da contracepção, no uso de drogas. O urologista ponderou a que a liberação do uso da maconha, por exemplo, tem que ser muito bem discutida, até para que os adolescentes possam fazer as suas opções, se eles querem aquilo ou não. Informação é tudo”.
O mesmo se aplica ao cigarro, apontou Canalini. Já existem evidências de que o cigarro dá câncer. Mas as pessoas têm de ser informadas sobre os riscos a que estão se expondo pelo uso do tabaco e seus derivados. Em relação ao cigarro, por exemplo, o relatório Covitel2, lançado em junho deste ano, que monitora os fatores de risco para doenças crônicas no Brasil, aponta que a maior prevalência de experimentação do cigarro eletrônico ocorre entre os jovens de 18 a 24 anos, com 23,9% no primeiro trimestre de 2023. No primeiro trimestre do ano passado, a taxa nessa faixa etária era mais baixa (19,7%).
A SBU lembra que a venda de cigarro eletrônico no Brasil é proibida e que, apesar disso, o dispositivo tem se popularizado entre os jovens que, muitas vezes, desconhecem os seus malefícios.“São temas importantes e têm de ser trazidos à tona, que educam o menino para toda uma atitude de saúde e cuidar do próprio organismo”. Chamou a atenção que, atualmente, está se vendo muito menino novo se tornando pai, sem que estejam emocionalmente nem financeiramente preparados para isso. “Não têm maturidade para arcar com a obrigação, nem com a beleza da paternidade. É uma oportunidade que se perde”.
Cultura
O presidente da SBU apontou que essa deficiência é cultural, porque os pais também não se cuidam e, por isso, muitas vezes, não se preocupam em levar os filhos a cuidarem da saúde. Ao contrário das mulheres que levam as filhas, ao entrarem na puberdade, no ginecologista para fazer exames e se informar, o mesmo não acontece com o pai em relação ao filho. “O homem não tem esse cuidado, começando pela higiene do órgão genital. Há pais que se preocupam com a saúde dos filhos em termos de imunização, mas não vê como o filho está urinando, se está lavando direito o pênis”. A falta de higiene é uma das causas do câncer de pênis que tem levado muitos homens à amputação do membro. A SBU defende a importância de se criar no homem, desde a adolescência, a cultura da prevenção de doenças e da rotina de ir ao médico para prevenir e evitar problemas, como as mulheres já fazem tradicionalmente.
Durante todo o mês de setembro, a SBU vai abordar em seu canal nas redes sociais Instagram, Facebook e TikTok (@portaldaurologia) temas em linguagem pertinente à faixa etária em vídeos e ‘lives’. No próximo dia 11, às 20h, especialistas se reunirão no Instagram para abordar “Álcool e cigarro eletrônico na adolescência”. Já no dia 25, no mesmo horário, o tema será “Sexualidade na adolescência”.
Infecções
De acordo com a SBU, outro problema que ameaça os jovens são as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), que exigem o uso de preservativos nas relações sexuais e a volta do conceito do sexo seguro. Pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022, revela que no período de 2009 a 2019, o percentual de escolares que usaram preservativo na última relação sexual caiu de 69,1% para 53,5% entre as meninas e de 74,1% para 62,8% entre os meninos. Alfredo Canalini afirmou que, sem proteção, os jovens ficam suscetíveis a infecções como a gonorreia e a clamídia que podem causar infertilidade, ao HPV que é fator de risco para o câncer, à sífilis que, se não tratada, pode gerar problemas cardíacos e neurológicos, ao HIV, a herpes, entre outras doenças.
Os meninos e meninas adolescentes de hoje não vivenciaram a pandemia de HIV/Aids, na década de 1980. Naquela época, o Ministério da Saúde se empenhou na divulgação do uso de preservativo para evitar a contaminação pelo vírus. Canalini defendeu que essas campanhas têm de voltar para conscientização do sexo seguro, diante do aumento que se percebe das infecções sexualmente transmissíveis, como HPV, hepatites, sífilis. “E, junto com isso, vai a questão da paternidade responsável”, indicou.
Entre as dúvidas que o adolescente pode tirar em uma consulta estão prevenção a Infecções sexualmente transmissíveis; câncer de testículo; inflamação na cabeça do pênis e prepúcio; fimose; ejaculação precoce; veias dilatadas nos testículos, ou varicocele; efeitos de anabolizantes; atraso da puberdade; tamanho do pênis; vacinação; paternidade responsável e prevenção de gravidez indesejada; orientações a respeito do início da vida sexual. (Alana Gandra)
Fonte: Agência Brasil