Falar do feminicídio e transformar a cultura para prevenir que esses crimes voltem a ocorrer. Com esse norte, a Procuradoria da Mulher da Câmara Legislativa abriu as atividades da Semana de Combate ao Feminicídio, que se estende na Casa até a próxima sexta-feira (15). A exposição Feminicídio na Mídia, da jornalista e cientista Anna Clea Maduro, introduziu esta edição do evento.
Na ocasião, também se inaugurou um memorial dedicado às mulheres vítimas desse crime no DF em 2025. Os nomes de Ana, Marcela, Ana Rosa, Liliane Cristina, Elaine, Dayane, Valdete, Telma, Géssica, Maria José, Vanessa e Cheryla foram registrados na peça, que representa um gesto de respeito às mulheres e de solidariedade para com as famílias delas.
“Cada mulher morta por um homem está deixando crianças órfãos e uma sociedade quebrada, dilacerada. Infelizmente, neste ano temos no DF 12 casos de feminicídio e mais cinco ainda em investigação”, lamentou a deputada Paula Belmonte (Cidadania), atual procuradora da mulher da CLDF.
À frente da Delegacia de Atendimento à Mulher 1, Adriana Romana descreveu que “a esmagadora maioria” dos casos de feminicídio são praticados com crueldade, a fim de desfigurar a vítima, sua vida e memória. Além disso, lembrou que cerca de 80% dos crimes são praticados pelos próprios parceiros e em casa.
“Quando a gente abre uma notícia jornalística e o título é ‘Mulher é morta após trair o companheiro’, percebe-se o apagamento do agente do crime. Onde fica a responsabilidade do agressor nessa manchete? As fotos sempre são das vítimas. Nesse caso especial, a mulher é tratada como culpada, o que contribui para a sociedade enxergar o feminicídio como algo justificável”, esclareceu Anna Clea Maduro, cuja dissertação defendida na Universidade de Brasília rendeu a mostra em exibição na CLDF.
No estudo, verifica-se que 63% dos dados analisados privilegiam a voz passiva, ou seja, a construção verbal que coloca a vítima no centro da cena, não o assassino. Ademais, a pesquisa constatou que somente 5,71% das matérias jornalísticas estudadas mencionam o Ligue 180, atendimento focado em enfrentar a violência contra as mulheres. A ligação é gratuita e o serviço funciona 24 horas, todos os dias da semana. A central ainda disponibiliza um canal via chat no Whatsapp, pelo (61) 9610-0180.

A dissertação inspirou três projetos de lei protocolados em junho deste ano pelo deputado Max Maciel (Psol): os PLs 1.817/25, 1.818/25 e 1.819/25.
O distrital Ricardo Vale (PT) reforçou a importância de não apenas legislar, mas tirar as normas do papel. “Não dá pra essa Casa fazer as leis e elas não serem colocadas em prática. Desde 2017, existe uma lei de minha autoria que obriga as escolas públicas a fazer o debate de combate ao machismo e valorização das mulheres. Foi aprovada pela CLDF e sancionada pelo governo, mas não foi posta em prática. Como vamos mudar a cultura machista no DF se não formarmos uma nova geração que respeite as mulheres?”, interrogou.

Nessa linha, o secretário-executivo de Segurança Pública do DF, Alexandre Patury, contextualizou que diante do episódio recente de agressão a uma mulher no elevador, algumas pessoas procuraram a Secretaria para questionar porque ela não denunciou o agressor. Segundo o secretário, tal pergunta revela o machismo na cultura e a falta de entendimento sobre a extensão das diversas formas de violência praticadas contra muitas das vítimas.
“Antes do feminicídio há violência psicológica, física, patrimonial. E por isso nós decidimos fazer esta semana dedicada para jovens. Receberemos alunos de todas as regiões administrativas para ensinar sobre as leis, mas também a respeitar a mulher”, informou Paula Belmonte.
Programação
De terça (12) a sexta-feira (15), a CLDF promove rodas de diálogo, com foco em prevenção à violência contra mulher. Participam representantes das forças de segurança do DF, incluindo delegacias especializadas no atendimento à mulher e no combate aos crimes cibernéticos, além da Polícia Militar; lideranças de projetos sociais voltados à proteção feminina; profissionais da psicologia; e pesquisadoras que desenvolvem estudos sobre a violência de gênero. As conversas vão ocorrer na Sala de Comissões, de 8h30 às 11h.
A Semana também contará com uma sessão solene, na quarta-feira (13), às 19h, com entrega de moções de louvor a pessoas que atuam para a causa. No encerramento, na sexta-feira, às 11h, haverá a encenação da peça Os filhos dela, da Cia Elefante Branco, que dá ênfase à vida dos órfãos que perderam as mães devido à violência contra a mulher.
Fonte: Agência CLDF