Comunidade escolar prestigiou apresentações, exposições e práticas pedagógicas
Por Bruno Grossi, Ascom/SEEDF
O Centro Educacional do Lago (CEL) realizou, na terça-feira (18), a Feira Cultural Raízes do Saber, um evento aberto à comunidade, que apresentou projetos desenvolvidos ao longo de 2025 por estudantes e professores. A programação reuniu produções autorais, apresentações artísticas, práticas pedagógicas e atividades que valorizam a diversidade cultural, o protagonismo estudantil e as múltiplas linguagens presentes no cotidiano escolar.
O diretor do CEL, Vitor Rios, destacou que a feira marca a consolidação de um trabalho contínuo composto por diferentes projetos. Para ele, a formação dos estudantes precisa dialogar com as raízes culturais do povo brasileiro. “A escola tem o papel de educar no sentido contrário às práticas de racismo que se disseminam nas redes. Nosso trabalho valoriza a diversidade cultural e étnica, reconhecendo que a história do Brasil é indissociável das culturas indígenas, africanas e europeias”, afirmou.
Ao comentar a programação especial da feira, Vitor ressaltou as parcerias externas e a presença de grupos culturais que colaboram com o processo formativo. Ele também destacou o crescimento do projeto de capoeira no CEL, desenvolvido no ensino integral com o apoio do grupo Raízes do Brasil. “Recebemos uma etapa da Copa Brasileira de Capoeira. Os estudantes têm se envolvido tanto que já estamos buscando ampliar as aulas, porque o grupo só cresce, e a participação deles vai além da escola”, completou.
Ao longo da tarde, famílias, parceiros e visitantes desfrutaram de um grande espaço de convivência, troca de saberes e celebração das identidades que compõem a comunidade escolar. A iniciativa foi planejada como oportunidade de socialização dos trabalhos e de integração entre escola e território, reforçando o compromisso do CEL com uma educação inclusiva e antirracista.

Antirracismo como prática pedagógica
A supervisora pedagógica, Deise Souza, reforçou que a feira é resultado de um trabalho estruturado para fortalecer, durante todo o ano letivo, práticas educativas alinhadas ao combate ao racismo. Ela explicou que todas as disciplinas vêm incorporando discussões sobre identidade, história e cultura afro-brasileira e indígena. “Nosso objetivo é que cada estudante compreenda o valor de ser uma pessoa antirracista. Por isso, a culminância reúne exposições, palestras e apresentações que dialogam com a lei, com a cultura e com a vida da população negra”, apontou.
Segundo Deise, a programação trouxe ainda convidados de religiões de matriz africana, rodas de conversa sobre saúde mental da população negra, debates sobre empreendedorismo e apresentações culturais, como o grupo de percussão Congoná. “Não poderia faltar a capoeira, que é uma expressão viva da resistência e da ancestralidade presentes na formação do nosso país”, acrescentou.
A professora de sociologia, Janete Silva, destacou que a valorização da cultura afro-brasileira nas escolas públicas do DF precisa ocorrer como prática contínua, integrada ao currículo e ao cotidiano pedagógico. “A culminância que vivemos hoje celebra um trabalho que acontece desde o início do ano, honrando Zumbi dos Palmares e permitindo que os estudantes exponham suas produções, aprendam uns com os outros e construam uma consciência antirracista”, afirmou.
Janete ressaltou que incluir saberes das religiosidades de matriz africana é reconhecer as práticas tradicionais como patrimônios humanitários e civilizatórios. Ela lembrou que essas vivências ajudam a desconstruir preconceitos e enfrentar mentalidades naturalizadas pelo racismo estrutural. “Trabalhamos para desmistificar práticas racistas que muitos consideram normais. A educação é o nosso caminho para combater essas ideias e reafirmar a dignidade das culturas negras e indígenas”, pontuou.

Protagonismo estudantil e identidade territorial
A estudante Sara Reis, 17 anos, da 2ª série, explicou que participava da feira representando o projeto Meninas.com, grupo da Universidade de Brasília que incentiva a presença de mulheres nas áreas de tecnologia e ciência da computação.
O objetivo da apresentação foi destacar a contribuição de mulheres negras e brasileiras que tiveram papel fundamental nessas áreas, mas que ainda recebem pouca visibilidade. “Mesmo com avanços, a tecnologia e a ciência ainda são majoritariamente ocupadas por homens brancos, então hoje estamos aqui para dar voz a mulheres que fizeram muito pelo país, como a pesquisadora Jaqueline Góes, responsável com sua equipe pela identificação de um novo genoma da Covid”, afirmou.
Para ela, o contato com outras mulheres da área ampliou suas perspectivas profissionais e acadêmicas, fortalecendo seu desejo de seguir carreira na engenharia mecatrônica. “Esse espaço foi essencial para conhecer o mercado, ouvir experiências de quem já está na universidade e sentir que nós também podemos ocupar esses lugares; isso me inspira e incentiva muitas outras meninas da escola”, observou.

O estudante Ash Lima, 16 anos, da 2ª série, apresentou as maquetes produzidas na sala de recursos, que retratam diferentes quilombos e sua relação histórica e territorial com o Cerrado. O trabalho mostra como as áreas de preservação ambiental são mantidas por comunidades quilombolas. “Os quilombos surgiram como espaços de sobrevivência para negros fugidos da escravidão, e mesmo depois da Lei Áurea eles não receberam apoio do Estado; por isso muitos permaneceram nesses territórios, como a comunidade Calunga no Cerrado, preservando o ambiente e a própria história”, contou.
Celebração, formação e diálogo com a comunidade
A coordenadora pedagógica, Tessia Goulart, lembrou que a feira consolida estudos, leituras e atividades que o CEL promove de forma frequente, e não apenas no mês da Consciência Negra. Ela citou iniciativas como o clube de leitura antirracista e ações de diferentes áreas do conhecimento. “A feira é um momento de conquista. Nada aqui foi feito por obrigação: todos estão participando porque esse trabalho faz sentido, seja nas exposições, nas falas, no plantio das sementes crioulas ou nas trocas de saberes”, ressaltou.

Outro projeto apresentado foi o de Máscaras Africanas, que surgiu da parceria com o Museu Baobá, acervo digital de culturas africanas, por meio de modelagens em 3D. As peças expostas foram produzidas a partir de visitas da equipe da UnB a embaixadas de países africanos, onde digitalizaram máscaras tradicionais. A iniciativa envolve estudantes de diversas áreas, como psicologia e engenharia, e é coordenada pelo projeto Homo Ludens, que desenvolve ações educacionais de impressão 3D.
Tessia também chamou atenção para a participação de grupos externos, como psicólogas convidadas e estudantes da UnB que discutiram o antirracismo no campo da psicologia. Além disso, o evento recebeu representantes do templo Rosa de Oxalá, que compartilharam experiências sobre o enfrentamento ao preconceito religioso. “Hoje é um dia de celebrar a vida da escola, de ocupar nossos espaços e reafirmar que educação e antirracismo caminham juntos”, concluiu.

