Diante de casos recentes de paradas cardiorrespiratórias e mortes em academias de ginástica, a importância do exame médico e a capacitação de profissionais para resgates têm sido cada vez mais discutidas. Em Brasília, a Fit Park Academia orienta a apresentação de exames específicos antes da efetivação de matriculas e irá realizar, neste sábado (11/4), das 14h às 19h, treinamento da equipe de profissionais de educação física para agir em casos de emergência. O treinamento de primeiros socorros e uso do desfibrilador será promovido por um bombeiro e paramédico, e um cardiologista. Segundo especialistas, medidas preventivas como estas podem evitar acidentes e mortes.
O profissional de educação física e responsável técnico da Fit Park, Andrétt Costa, avalia que a apresentação de exames médicos tem como objetivo a seleção de indivíduos aptos e inaptos à prática esportiva. Além disso, tem como vantagem a orientação da conduta dos profissionais de educação física com os praticantes, sejam iniciantes ou periódicos. Segundo Andrétt, a iniciativa traz mais segurança para os alunos, já que são avaliadas as condições cardiovasculares, ortopédicas e clínicas que ajudam a detectar, por exemplo, doenças cardíacas genéticas ou adquiridas, como hipertensão, diabetes, dislipidemia, e arritmias que podem significar algum risco na pratica de exercícios físicos.
De acordo com Andrétt, alguns dos exames mais importantes são: avaliação física, teste ergométrico, eletrocardiograma, exame de sangue e qualquer outro exame que colabore e/ou ajude a prever riscos pela prática de exercícios. Além disso, a aplicação de um questionário (PAR-Q) pelo profissional de educação física é fundamental para detectar necessidades específicas dos praticantes, como o levantamento de enfermidades ou problemas osteoarticulares, osteomusculares, e doenças cardiocirculatórias, entre outras.
“Esse é um fator garantidor de segurança para aluno e academia, principalmente, quando o aluno negligencia ou omite alguma informação muito importante. Por exemplo: se ele (aluno) diz que nunca teve problemas cardíacos, mas já operou o coração, a academia não tem como prever que as informações por ele prestadas são inverídicas.”, pondera Andrétt.
“Por isso deve-se aplicar este questionário (PAR-Q), que ao fim é assinado pelo cliente-aluno e é nesta avaliação, que o profissional de educação física determina a procura de um médico especializado. Por outro lado, como a avaliação física é um procedimento essencial do profissional de educação física e exigido por lei no DF, este deve ser capacitado para realizá-la detalhadamente, de modo a otimizar os benefícios e a adesão à prática regular, com o máximo de segurança ao beneficiário”, diz Andrétt, ao destacar a importância da qualificação profissional nas academias.
Especialista
Responsável pelo treinamento da equipe profissional da Fit Park, o cardiologista Antônio Paulo Filomeno se posiciona a favor da obrigatoriedade dos exames e destaca a importância da frequência das visitas ao médico cardiologista, principalmente, para diagnosticar doenças silenciosas que podem levar à morbidade e até parada cardiorrespiratória (PCR). Diante de uma síncope, temos que pensar nos seguintes eventos: 5Hs: hipoxia, hipovolemia, hidrogênio (acidose) hiper/hipo calcemia, hipotermia; e os 5Ts: trombose coronária (infarto) tromboembolismo, tensão toxáxica (pneumotórax), tamponamento cardíaco, tóxicos. Outros exemplos de doenças silenciosas são hipertensão, diabetes, fibromialgia e colesterol alto.
“A morte súbita durante a prática esportiva tem sido incomum, mas não raras. É estimado em 200 mil eventos/ano o número total de paradas cardiorrespiratórias. Metade em ambiente hospitalar e outra metade em ambiente externo. A fibrilação ventricular e a taquicardia ventricular são responsáveis por 24% dos casos e podem ser revertidas com desfibrilação elétrica.”, comenta.
“A sobrevida em geral de uma PCR é de 37% em ambiente hospitalar e 18% em ambientação externa. Vê-se, aí, a importância do Desfibrilador Elétrico Automático. As vítimas desses eventos são geralmente portadores de patologias silenciosas, não identificadas em exames superficiais e sem a devida investigação. Exames apropriados são capazes de identificar mais de 90% das patologias potencialmente letais.”, alerta Filomeno.
De acordo com o médico, a frequência dos exames cardiológicos deve considerar a classificação funcional da New York Heart Association (associação cardiológica de Nova York), que categoriza os doentes em quatro grupos baseados na limitação funcional pela ergometria. Esses exames podem ser anuais, semestrais ou mais frequentes.
“O atestado deve ser minucioso, evitando-se a frase: ‘Apto à prática esportiva em geral’. Deve constar o termo de ‘apto’, seguido das modalidades liberadas e ‘inapto’, àquelas não indicadas ou contraindicadas. Para os cardiopatas, os atestados devem sugerir os limites de frequência cardíaca bem como METS obtidos pelo Teste Ergométrico ou Ergoespirometria prévios.”, recomenda Filomeno.
Segundo o cardiologista, não há diretriz ou consenso sobre a liberação ou não da realização de exames de acordo com a faixa etária do praticante. No entanto, ele sugere aos jovens até segunda década o exame clínico, histórico de saúde e exame físico. Entre a segunda e a terceira década, o indicado é acrescentar o eletrocardiograma. E a partir da quarta década, acrescentar o teste de esforço e/ou ecocardiograma. Exames complementares são indicados quando for detectada alguma alteração, em casos específicos.
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