Em encontro histórico, gestores de 125 CEUs (Centro de Artes e Esportes Unificados) e Pontos de Cultura discutiram, nesta sexta-feira (23), durante a TEIA Nacional da Diversidade 2014, em Natal (RN), formas de assegurar efetiva ocupação e participação social na gestão dos equipamentos de cultura. No caso dos CEUs, estão sendo implantados 357 unidades em todo o país.
Para o secretário da Economia Criativa, Marcos André Carvalho, o programa Cultura Viva deve ser uma referência. “Há 10 anos, o governo chegava às comunidades mais distantes do país para reconhecer a produção cultural. Os CEUs estão nascendo agora e os Pontos de Cultura são atores decisivos no sucesso desses equipamentos”, analisou. Carvalho lembrou que os CEUs podem preencher uma lacuna histórica, inclusive para os Pontos de Cultura. “Como a gente quer trabalhar política de cultura se não temos biblioteca, teatro e cinema na grande maioria dos municípios? Os CEUs abrem essa possibilidade, inclusive para que os Pontos de Cultura ocupem esse espaço”, acrescentou.
Foi o que verificou, na prática, a gestora do CEU de Matão (SP), Lígia Simão Nicolucci. Com carreira no teatro, ela sentiu na pele a falta de espaço adequado. “Uma dificuldade enorme para montar espetáculo, sem lugar para guardar figurino nem ensaiar”. Lígia ajudou a construir o primeiro Ponto de Cultura do município e, com a implantação do CEU, crê nessa aproximação.
Comunidades na gestão
No projeto dos CEUs, a gestão deve ser compartilhada entre administração municipal e comunidades beneficiadas pelo equipamento. Para isso, é constituído um Grupo Gestor, de composição mista (poder público e sociedade civil), que deve ter autonomia para, em conjunto com a comunidade, definir a programação e a ocupação do espaço. Para apoiar esse processo, o Ministério da Cultura desenvolveu um mapeamento sociocultural do território que possibilita reconhecer a produção cultural e fomentar a mobilização social em torno do CEU. “É importantíssimo trabalhar essa cartografia social do território. No caso dos Pontos de Cultura, eles não existem por causa do Cultura Viva, foi o programa que reconheceu esse processo cultural existente”, aponta Leandro Artur Anton, representante da Rede de Pontos de Cultura do Rio Grande do Sul.
“Devemos buscar uma aproximação entre CEUs e Pontos de Cultura que envolve o processo de gestão. Os CEUs podem ser incubadoras de Pontos de Cultura, com autonomia do Ponto em relação ao gestor do equipamento. Essa autonomia deve ser uma diretriz para os CEUs. Cada grupo tem uma maneira diferente de atuar no espaço e os CEUs vão precisar reconhecer isso para garantir essa diversidade cultural. Não pode vir de cima para baixo”, avaliou Pedro Vasconcelos, diretor de Cidadania e Diversidade Cultural do ministério. Na mesma linha, Célia Pinheiro, coordenadora do Programa de Interação pela Música (PIM) de Vassouras (RJ) e membro do GT de Música da Coordenação Nacional dos Pontos de Cultura, explicou que gestão compartilhada deve significar gestão pela comunidade. “Tem que haver esse sentimento de pertencimento, do ‘eu decido o que acontece’”, pontuou.
Uma das experiências mais ricas de mobilização social em torno de um projeto cultural é a Biblioteca Parque do Rio de Janeiro. No debate entre CEUs e Pontos de Cultua, a gestora da Biblioteca Parque de Manguinhos, Ivete Miloski, fez um relato emocionante. O espaço de 10 mil metros quadrados, aberto há quatro anos em uma das favelas mais carentes da capital fluminense, produziu efeitos profundos. Alguns números falam por si. São mais de cinco mil visitas por mês, 1.787 empréstimos de livros, acervo de 29.900 obras e mais de 6.100 sócios. Como construir esse patrimônio cujo valor não se mede em dados? “Não vai funcionar se não tiver vínculos com a comunidade. No período das obras, procuramos os mestres, oficineiros, professores e grupos que já existiam. Para que quando a biblioteca abrisse as portas, já tivéssemos essa mobilização realizada. Quando a gente arma as pessoas com livros, ideias e espaços, estamos formando identidade”, acredita.
Texto e foto: Pedro Rafael Vilela – SEC / MinC
Edição: Ascom / MinC
Fonte: Ministério da Cultura