Evento que tem papel importante na democratização do acesso ao livro e no estímulo à leitura no país, a 22ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) terminou no domingo (13) na cidade histórica do litoral sul do Rio de Janeiro. O Ministério da Cultura (MinC) participou de uma série de atividades – de debates a rodas de conversa, com destaque para os diálogos sobre o novo Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL). O festival também contou com o MoVCEU, equipamento cultural itinerante.
“A Flip chegou à sua 22ª edição muito bem consolidada no calendário cultural brasileiro e mais amadurecida, inclusive na perspectiva da bibliodiversidade. A gente consegue ter uma programação mais diversa, com a ocupação de espaços em atividades paralelas. A presença do MinC foi muito forte, não apenas por meio da Secretaria de Formação Livro e Leitura, mas também com a Fundação Casa de Rui Barbosa e Fundação Biblioteca Nacional. E nós aproveitamos essas ambientes das feiras literárias para discutir com a sociedade e com o poder público sobre a Política Nacional de Leitura e Escrita e a construção do novo Plano Nacional do Livro e Leitura”, comenta o secretário de Formação, Livro e Leitura, Fabiano Piúba.
Ele e a coordenadora-geral de Livro e Literatura, Andressa Marques, também da Sefli, estiveram presentes em mesas que abordaram temas como o PNLL, políticas públicas do Governo Federal voltadas para a periferia no campo do livro, da leitura e da literatura e os sistemas das bibliotecas públicas e a composição dos acervos nos âmbitos municipal, estadual e federal.
“A participação da Sefli na Flip foi um importante momento de diálogo sobre as ações em andamento na Pasta, principalmente em relação ao PNLL. Destaco a ótima recepção que nosso projeto Territórios da Escrita, em parceria com a UFRGS [Universidade Federal do Rio Grande do Sul], teve em todas as mesas que participamos. Será a primeira formação de escritores pública e gratuita em escala nacional, com lançamento no início de novembro”, relata Andressa.
Foto: Mani Vaz/ANF
Cultura Viva
Coordenadora de Planejamento da Cultura Viva da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural (SCDC), Juliana Caetano foi uma das convidadas da mesa Novos Cronistas do Rio: Influenciadores, Mídias Comunitárias e Digitais. Na atividade ela falou sobre o recorte da Política Nacional Cultura Viva (PNCV) referente a rádios comunitárias, bibliotecas comunitárias, assim como coletivos e entidades que trabalham com escrita criativa, leitura e tecnologia.
“O direito à informação, à comunicação e à cultura nada mais é que o próprio direito à sociedade, e atualmente todas as relações são de alguma forma mediadas pela cultura digital”, afirma. E acrescenta: “Nós iremos fomentar milhares de Pontos e Pontões de Cultura ainda este ano, e pelo menos nos próximos quatro, com a PNAB [Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura], em cada côncavo deste país, e também em seus convexos, como as favelas que sobem nossos morros sedentas de investimentos que agora começam a chegar”.
Na roda de conversa 20 Anos da Política Cultura Viva, Juliana destacou que os investimentos proporcionados pela PNAB, com recursos vinculados especificamente à Cultura Viva, expõem as medidas de qualificação do Cadastro Nacional de Pontos de Cultura para garantir maior inclusão e acesso das comunidades tradicionais à política e ao fomento. “A Cultura Viva engloba todas as linguagens artísticas e também os fazeres e saberes tradicionais. Estamos trabalhando para que aqueles que menos acessam as políticas públicas sejam incluídos e valorizados, como é o caso dos indígenas. Queremos que a certificação como Ponto de Cultura seja acessível a todas essas comunidades e que, com um cadastro qualificado, com dados e indicadores públicos consistentes, possamos avançar em fomentos específicos, de modo que os indígenas deixem de uma vez por todas as situações de precariedade, miséria e desvalorização social e cultural”, declara.
Foto: Marcela Canéro
Estreia
Estreante no festival, a Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), entidade vinculada ao MinC, marcou presença com exposição, debates e lançamento de livro. “O Arquivo-Museu da Literatura Brasileira da Casa de Rui Barbosa guarda acervos pessoais de 150 escritoras e escritores brasileiros, sendo uma referência para pesquisadores e estudiosos no país e no mundo. Com toda essa importância e singularidade, era estranho que até agora a Casa Rui não estivesse presente na maior festa literária do país. Portanto, é com muita alegria que estreamos na Flip, com uma programação densa, diversificada e que alcançou grande repercussão”, salienta o presidente da FCRB, Alexandre Santini.
“Realizamos o debate Fé e Política no Brasil Hoje para um auditório lotado, com presença de representações políticas, culturais e religiosas em uma perspectiva ecumênica. Ainda lançamos um livro, retomando a linha editorial da FCRB, com o inventário do acervo de Hélio Pellegrino. Em parceria com a UFF [Universidade Federal Fluminense] promovemos um minisseminário sobre a vida e obra do escritor alemão Thomas Mann, filho de uma brasileira nascida em Paraty. Ainda sobre o autor, inauguramos a exposição A Democracia Há de Vencer. Apesar de um ato de vandalismo cometido contra um dos murais desta mostra, nós demos o recado: a democracia, a cultura e a literatura resistem! Nosso objetivo é ampliar a participação nas próximas edições, levando a Casa para todo o público do evento, e também para outras feiras e festas literárias pelo Brasil afora”, finaliza.
Foto: Thiago Costa/ Casa de Cultura de Paraty
Equipamento itinerante
Veículo adaptado que leva atividades culturais para comunidades de baixa renda em municípios com até 20 mil habitantes, o MovCeu recebido pelo município estacionou na festa. O público pode visitar a biblioteca, acompanhar projeções de vídeo e recebeu informações sobre a iniciativa.
A subsecretaria de Espaços e Equipamentos Culturais do MinC, Cecília Gomes de Sá, salienta a importância do equipamento cultural no evento. “O objetivo principal do MovCEU é fazer esse intercâmbio cultural entre as pequenas e as grandes cidades. É mostrar que a cultura no interior é potente e conectada, e não aquela visão antiquada do interiorano como uma pessoa isolada do mundo contemporâneo. A Flip é essa troca cosmopolita e o MovCEU tinha que estar presente”.
“O MovCEU é um equipamento itinerante que conquista as pessoas. É superimportante Paraty ter esse projeto. O município tem várias comunidades: indígena, caçaras, quilobolas. O MoVCEU permite pensar atividades muito diferentes de territorialização. De levar oficinas, contações de histórias e apresentações, para públicas de diversas idades, de crianças a idosos”, completa Juliana.
Flip
Ao longo de cinco dias, a Flip recebeu entre 27 e 30 mil visitantes, segundo os organizadores. A audiência digital mais que dobrou em relação ao ano passado: 53 mil espectadores acompanharam as palestras pelo canal oficial da feira no YouTube – em 2023 foram 25 mil acessos. Já na livraria oficial foram comercializados cerca de 15 mil exemplares.
O evento homenageou o jornalista e escritor carioca Paulo Barreto, mais conhecido como João do Rio (1881-1921). A programação teve mesas de debates sobre a literatura, reunindo novos autores e escritores consagrados, entre nomes nacionais e internacionais.
A edição 2024 conta com apoio do MinC com fomento de R$ 4,9 milhões, por meio da Lei Rouanet, alinhando a programação com o Plano Nacional do Livro e Leitura.
Fonte: Ministério da Cultura