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Debate sobre os desafios nos campos da arte e da cultura guia Seminário Internacional Perspectivas da Arte Brasileira no Armazém da Utopia

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Estreia do Teatro Vianinha, no Armazém da Utopia, Rio de Janeiro, após as obras de restauro e modernização do espaço, o espetáculo O Banquete, de Mário de Andrade, inspirou o Instituto Ensaio Aberto a expandir o debate sobre a obra a partir dos desafios para a arte e a cultura no cenário contemporâneo com a realização do Seminário Internacional Perspectivas da Arte Brasileira.

Dividido em quatro encontros abertos ao público durante o mês de setembro, o palco recém inaugurado recebeu na noite da última terça-feira (24) o secretário-executivo do Ministério da Cultura (MinC), Márcio Tavares, e a historiadora e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), Lilia Schwarcz, que trouxeram a público análises para um entendimento histórico da arte brasileira no contexto das contribuições de Mário de Andrade.

Márcio ressaltou a relevância do caráter político e democrático do debate. “Que bom que agora a gente pode parar também para refletir a respeito da nossa história. Um dos grandes problemas da construção histórica brasileira é que a gente para de refletir e de olhar para o nosso passado e, com isso, a gente não tem instrumentos suficientes para entender quais são os grandes dilemas do presente e oferecer políticas públicas adequadas e que possam de fato corrigir problemas históricos. E quando a gente tá falando de políticas culturais isso é absolutamente necessário. A reflexão precisa acompanhar cada passo do desenvolvimento das políticas, porque fazer política cultural não é simplesmente um exercício autônomo, de financiamento, de pagamento, de produção, ela é uma intervenção nos instrumentos de reflexão”.

Para ele, é absolutamente necessário entender não só o legado do modernismo, cem anos depois de 1922, mas entender o quanto aquela construção e as narrativas que foram instituídas a partir dali foram determinantes na formação cultural brasileira, com uma série de questões, algumas que precisam ser revisitadas e outras que são de fato emancipatórias.

“O Mário de Andrade foi uma das pessoas fundamentais nessa trajetória, o Banquete, entre todas as coisas, é uma crítica à construção musical, a forma como a música, sobretudo a erudita, era apresentada e era construída”, conta Márcio Tavares.

Lilia Schwarcz avalia que essa foi a obra derradeira do autor. “É uma peça que alegoricamente é muito relevante para a gente pensar Mário de Andrade. Uma obra incompleta, uma obra belíssima, uma espécie de metalinguagem e reflexão sobre o teatro, sobre a potencialidade da cultura e uma meditação estética inacabada”.

A historiadora conta que a série começou a ser publicada em maio de 1943, na Folha da Manhã, onde ele escreveu todas as quintas-feiras, sob o título Mundo Musical, com 23 episódios, até sua morte e também comentou sobre os personagens da história. “Os aspectos de Mário estão todos lá, a questão da dissonância entre o que fazemos e o que somos e a questão da inquietude e ele traz isso para essa peça que tem esse tom, de conversa de salão, e é tão bonito isso”.

“Essa é uma obra filosófica sobre o teatro, incrível ela estar sendo produzida por esse grupo, é uma narrativa de Mário, de si e dos outros, é uma narrativa perplexa de uma cidade que vai virando eminentemente urbana. É uma obra de revisão, é pena que ela não tenha sido concluída, mas acredito que a conclusão dessa obra está sendo feita agora por esse grupo, porque a beleza da incompletude é ficar completa pelos olhos que observam a arte. A arte é pura reflexibilidade, é pura produção do contexto”, conclui Lilia.

O diretor artístico de O Banquete, Luís Fernando Lobo, guiou a conversa. “Quando a gente resolveu inaugurar o teatro a gente pensou muito o que devia ser o espetáculo e a gente achou que deveria ser algo completamente diferente de tudo já havíamos feito antes. “Porque tentamos sempre ampliar os horizontes dos nossos espectadores, temos trabalhado muito a questão do repertório e para dialogar com Lima Barreto a gente achou que deveria ser Mário de Andrade, um texto que fala um pouquinho sobre um momento, que é a meia-noite do século”.

Produzida com o apoio da Lei Rouanet, a montagem tem cenografia de J. C. Serroni, o desenho de luz de César de Ramires, a direção musical e trilha original de Felipe Radicetti e os figurinos de Beth Filipecki e Renaldo Machado, todos parceiros de longa data da companhia. A direção de produção é de Tuca Moraes e a produção de Dani Carvalho.

A presidenta da Fundação Nacional de Artes (Funarte), Maria Marighella, e equipe da entidade vinculada ao MinC prestigiaram o seminário juntamente com uma plateia que dividiu dúvidas e anseios com os debatedores.

O Seminário Perspectivas da Arte Brasileira, que se encerra nesta quinta-feira (26), aprofundou com os convidados temas diversos como a literatura, as artes visuais, a música, o teatro e o pensamento social. A curadoria do evento é de Miguel Jost (PUC-Rio), Luiz Fernando Lobo e Tuca Moraes.

Bastidores

Fechado para obras de restauração e modernização, o Armazém da Utopia reabriu as portas no início de setembro com a participação do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. O equipamento cultural centenário localizado no coração histórico da cidade do Rio de Janeiro, na Avenida Rodrigues Alves, Zona Portuária, tem mais de cinco mil metros quadrados e é patrimônio histórico imaterial do Rio de Janeiro.

Antes da entrada no Seminário, a anfitriã Tuca Moraes, guiou Márcio Tavares e Lilia Schwarcz em visita às instalações. O grupo visitou os camarins, um estúdio de pilates e preparação corporal, acervo cenográfico e de figurinos. A arquitetura do local é marcada pela estrutura original em aço e pelas paredes de tijolo aparente, preservando a memória do passado portuário desse espaço.

“O artista é o único profissional que cria humanidade”. A frase de Mário de Andrade é umas das sentenças que estampam a Travessa Olga Benário, passagem com um pé direito alto que compõem o cenário das instalações do Armazém.

De montagens históricas como Morte e Vida Severina e Exceção e a Regra, o acervo de figurino do local é todo catalogado com fotos de elenco, indumentárias, separados por obras em araras distintas. “O que está ainda está em repertório não é utilizado para o espetáculo, o que está aqui no acervo de figurino fica intacto. O que já saiu do repertório imediato é reutilizado”, explica Tuca Moraes.

“Atualmente em todos os nossos espetáculos fazemos oficinas de figurino, cenografia e iluminação. A gente traz estudantes do Brasil inteiro que vêm para cá participar das montagens, trabalham com a mão na massa”, contou Tuca sobre essas características únicas nesse segmento no país.

O Teatro Vianinha, em homenagem ao dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho, é um dos palcos dos espetáculos da Ensaio Aberto e de companhias visitantes, com espaço para 300 pessoas na menor configuração e 500 na maior. Todo o espaço conta com acessibilidade arquitetônica para pessoas com mobilidade reduzida.

O Banquete

O Banquete é uma obra do escritor brasileiro Mário de Andrade, publicada em 1937. Considerado um dos principais romances modernistas brasileiros, o livro retrata a vida cultural e social de São Paulo durante os anos 1920, abordando temas como arte, música, política e identidade.



Fonte: Ministério da Cultura

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